25.9.11

LITERATURA BRASILEIRA NOVECENTISTA

MATURIDADE E ORIGINALIDADE DA LITERATURA BRASILEIRA NOVECENTISTA

Índice (para consulta, clique nas hiperligações abaixo indicadas)
 
 

 O processo da modernidade
     Pré-modernismo

     Semana de arte moderna
     Características gerais do modernismo
     1ª fase do modernismo
     2ª fase do modernismo
     Pós-modernismo
     Produção contemporânea

 Estudo de autores modernistas:
     Jorge Amado (Os velhos marinheiros)
     Guimarães Rosa (O burrinho pedrês)

 


O PROCESSO DA MODERNIDADE 
 

O PRÉ-MODERNISMO (1900-1922)
 
O que se convencionou chamar de pré-Modernismo no Brasil não constitui uma escola literária. Pré-Modernismo é, na verdade, um termo genérico que designa toda uma vasta produção literária, que caracteriza os primeiros vinte anos deste século. Nele é que se encontram as mais variadas tendências e estilos literários - desde os poetas parnasianos e simbolistas, que continuavam a produzir, até os escritores que começavam a desenvolver um novo regionalismo, alguns preocupados com uma literatura política, e outros com propostas realmente inovadoras. É grande a lista dos autores que pertenceram ao pré-Modernismo, mas, indiscutivelmente, merecem destaque: Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha, Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos.

        Assim
, pode-se dizer que essa escola começou em 1902, com a publicação de dois livros: "Os sertões", de Euclides da Cunha, e "Canaã", de Graça Aranha, e se estende até o ano de 1922, com a realização da Semana de Arte Moderna.

        Apesar de o pré-Modernismo não constituir uma escola literária, apresentando individualidades muito fortes, com estilos às vezes antagónicos - como é o caso, por exemplo, de Euclides da Cunha e Lima Barreto - percebe-se alguns pontos comuns entre as principais obras pré-modernistas:
        a) eram obras inovadoras, que apresentavam ruptura com o passado, com o academismo;
       b) primavam pela denúncia da realidade brasileira, negando o Brasil literário, herdado do Romantismo e do Parnasianismo. O grande tema do pré-Modernismo é o Brasil não-oficial do sertão nordestino, dos caboclos interioranos, dos subúrbios;
       c) acentuavam o regionalismo, com o qual os autores acabam montando um vasto painel brasileiro: o Norte e o Nordeste nas obras de Eucli-des da Cunha, o Vale do Rio Paraíba e o interior paulista nos textos de Monteiro Lobato, o Espírito Santo, retratado por Graça Aranha, ou o subúrbio carioca, temática quase que invariável na obra de Lima Barreto;
       d) difundiram os tipos humanos marginalizados, que tiveram ampliado o seu perfil, até então desconhecido, ou desprezado, quando conhecido - o sertanejo nordestino, o caipira, os funcionários públicos, o mulato;
         e) traçaram uma ligação entre os fatos políticos, económicos e sociais contemporâneos, aproximando a ficção da realidade.
Esses escritores acabaram produzindo uma redescoberta do Brasil, mais próxima da realidade, e pavimentaram o caminho para o período literário seguinte, o Modernismo, iniciado em 1922, que acentuou de vez a ruptura com o que até então se conhecia como literatura brasileira.
 

A SEMANA DE ARTE MODERNA (1922)
 
O Modernismo, como tendência literária, ou estilo de época, teve seu prenúncio com a realização da Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal de São Paulo, nos dias 13, 15 e 17 de Fevereiro de 1922. Idealizada por um grupo de artistas, a Semana pretendia colocar a cultura brasileira a par das correntes de vanguarda do pensamento europeu, ao mesmo tempo que pregava a tomada de consciência da realidade brasileira.
O Movimento não deve ser visto apenas do ponto de vista artístico, como recomendam os historiadores e críticos especializados em história da literatura brasileira, mas também como um movimento político e social. O país estava dividido entre o rural e o urbano. Mas o bloco urbano não era homogéneo. As principais cidades brasileiras, em particular São Paulo, conheciam uma rápida transformação como consequência do processo industrial. A primeira Guerra Mundial foi a responsável pelo primeiro surto de industrialização e consequente urbanização. O Brasil contava com 3.358 indústrias em 1907. Em 1920, esse número pulou para 13.336. Isso significou o surgimento de uma burguesia industrial cada dia mais forte, mas marginalizada pela política económica do governo federal, voltada para a produção e exportação do café.
Imigrantes - Ao lado disso, o número de imigrantes europeus crescia consideravelmente, especialmente os italianos, distribuindo-se entre as zonas produtoras de café e as zonas urbanas, onde estavam as indústrias. De 1903 a 1914, o Brasil recebeu nada menos que 1,5 milhão de imigrantes. Nos centros urbanos criou-se uma faixa considerável de população espremida pelos barões do café e pela alta burguesia, de um lado, e pelo operariado, de outro. Surge a pequena burguesia, formada por funcionários públicos, comerciantes, profissionais liberais e militares, entre outros, criando uma massa politicamente "barulhenta" e reivindicatória.
A falta de homogeneidade no bloco urbano tem origem em alguns aspectos do comportamento do operariado. Os imigrantes de origem europeia trazem suas experiências de luta de classes. Em geral esses trabalhadores eram anarquistas e suas acções resultavam, quase sempre, em greves e tensões sociais de toda sorte, entre 1905 e 1917. Um ano depois, quando ocorreu a Revolução Russa, os artigos na imprensa a esse respeito tornaram-se cada vez mais comuns. O Partido Comunista seria fundado em 1922. Desde então, ocorreria o declínio da influência anarquista no movimento operário.
Desta forma, circulavam pela cidade de São Paulo, numa mesma calçada, um barão do café, um operário anarquista, um padre, um burguês, um nordestino, um professor, um negro, um comerciante, um advogado, um militar, etc., formando, de fato, uma "paulicéia desvairada" (título de célebre obra de Mário de Andrade). Esse desfile inusitado e variado de tipos humanos serviu de palco ideal para a realização de um evento que mostrasse uma arte inovadora a romper com as velhas estruturas literárias vigentes no país.
 
O Modernismo é o movimento literário que compreende um grupo variado de correntes estéticas de vanguarda, como o Dadaísmo, o Surrealismo e o Futurismo. É uma tendência dinâmica, indicando a necessidade de renovação e a crença de que é possível uma superação constante, baseada na ideia da modernidade contra a tradição e do antigo. O séc. XX tem-se caracterizado como uma época de mudanças radicais, com a preocupação de substituir os valores antigos e levar a pesquisa ao campo de todas as actividades humanas. No campo literário, a atitude moderna da época presente em oposição às antigas coloca acima de tudo o particular, o local, a circunstância, o pessoal, o subjectivo, o relativo e a diversidade. Assim configurada a atitude moderna, a literatura contemporânea atingiu um estágio em que as constantes estruturais e ideológicas obedecem a esse teor.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DO MODERNISMO

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

A importância maior das vanguardas residiu no triunfo de uma concepção inteiramente libertária da criação artística. O pintor, o escritor ou o músico não precisam se guiar por outras leis que não as de sua própria interioridade e seu próprio arbítrio. A liberdade só poderá ser cerceada por regimes autoritários que proíbem a circulação dos objectos artísticos. Caso contrário, todas as normas foram abolidas. 

INCORPORAÇÃO DO QUOTIDIANO

Uma das maiores conquistas do modernismo, a valorização da vida quotidiana traz para uma abertura temática sem precedentes pois, até então, apenas assuntos "sublimes" tinham direito indiscutível ao mundo literário. Agora, o prosaico, o diário, o grosseiro, o vulgar, o resíduo, o lixo, a velocidade e a máquina tornam-se os motivos centrais da estética modernista. A aventura do quotidiano leva o artista a romper com os esquemas de vida burguesa. Acima de tudo, o artista está consciente de que todos os objectos podem tornar-se literários.  

LINGUAGEM COLOQUIAL

Este anticonvencionalismo temático, esta dessacralização dos conteúdos encontra correspondência na linguagem. Além das inovações técnicas, a linguagem torna-se coloquial, espontânea, mesclando expressões da língua culta com termos populares. Liberto da escrita "nobre", o artista volta-se para um estilo prosaico, que admite "erros" gramaticais e palavras comuns. 

INOVAÇÕES TÉCNICAS

O rompimento com os padrões culturais do século XIX implicaria no surgimento de novas técnicas de escrita, tanto no domínio da poesia, quanto no da ficção. As principais conquistas foram:
- O verso livre: o verso já não está sujeito ao rigor métrico e as formas fixas de versificação, como o soneto, por exemplo. Também a rima torna-se desnecessária. 
- A destruição dos nexos: os chamados nexos sintácticos, preposições, conjunções, etc. São eliminados da poesia moderna, que se torna mais solta, mais descontínua e fragmentária e, fundamentalmente, mais sintética. No plano da prosa, essas elipses geraram o estilo telegráfico: frases curtas e sincopadas. 
- A enumeração caótica: consiste no acúmulo de palavras que designam objectos, seres, sensações, vinculados a uma ideia ou várias ideias básicas, sem ligação evidente entre si. 
- O fluxo de consciência: técnica narrativa estabelecida por Edouard Dujardin e sacramentada por James Joyce. Trata-se de um monólogo interior levado para o texto de ficção sem qualquer obediência à normalidade gramatical, à lógica e mesmo à coerência. É a mente da personagem revelada por ela própria, sem nenhum tipo de barreira racional. 
- A colagem e montagem cinematográfica: ainda no campo da narrativa, valoriza-se a fragmentação do texto, sua montagem em blocos, a "colagem" de notícias de jornais, cartazes, telegramas, etc. No corpo dos romance, como o fez Jonh dos Pasos na trilogia U.S.A. Ou ainda a utilização de várias vozes narrativas (1ª, 2ª, 3ª pessoas no mesmo livro) nas experiências de Faulkner (Enquanto agonizo, O som e a fúria). 
- A eliminação dos sinais de pontuação: os sinais tornam-se facultativos, com o escritor subordinado ao uso de pontos, vírgulas, travessões, etc. A uma disposição estilístico-psicológica e não a regras gramaticais. Sua eliminação frequente visa dar ao texto um aspecto de caótico ou febril. 

AMBIGUIDADE

O discurso literário perde o sentido "fechado" que geralmente possuía no século XIX. Ou seja, ele oferecia ao leitor apenas um sentido, uma interpretação. Agora, ele tem um carácter variado e polissémico. Uma rede de significações, que permite múltiplos níveis de leitura. É a chamada obra aberta, obra que não apresenta univocidade. 

PARÓDIA / DIALOGISMO / INTERTEXTUALIDADE

Os modernistas realizam um releitura de textos famosos do passado, reescrevendo-os em forma de paródia. Um dos livros de crítica literária de Mário de Andrade chama-se A escrava que não é Isaura, numa evidente alusão ao conhecido relato de Bernardo Guimarães.
http://br.geocities.com/esquinadaliteratura/escolas/moder09.html (adaptado)
O MODERNISMO – PRIMEIRA FASE (1922-1930):
     OUSADIA E INOVAÇÃO
 
O período de 1922 a 1930 é o mais radical do movimento modernista, justamente em consequência da necessidade de definições e do rompimento de todas as estruturas do passado. Daí o carácter anárquico desta primeira fase modernista e seu forte sentido destruidor.
Ao mesmo tempo em que se procura o moderno, o original e o polémico, o nacionalismo se manifesta em suas múltiplas facetas: uma volta às origens, à pesquisa das fontes quinhentistas, à procura de uma língua brasileira (a língua falada pelo povo nas ruas), às paródias, numa tentativa de repensar a história e a literatura brasileiras, e à valorização do índio verdadeiramente brasileiro. É o tempo dos manifestos nacionalistas do "Pau-Brasil" (o Manifesto do Pau-Brasil, escrito por Oswald de Andrade em 1924, propõe uma literatura extremamente vinculada à realidade brasileira) e da "Antropofagia"[1] dentro da linha comandada por Oswald de Andrade. Mas havia também os manifestos do Verde-Amarelismo e o do Grupo da Anta, que trazem a semente do nacionalismo fascista comandado por Plínio Salgado.
No final da década de 20, a postura nacionalista apresenta duas vertentes distintas: de um lado, um nacionalismo crítico, consciente, de denúncia da realidade brasileira e identificado politicamente com as esquerdas; de outro, o nacionalismo ufanista, utópico, exagerado, identificado com as correntes políticas de extrema direita.
Entre os principais nomes dessa primeira fase do Modernismo, que continuariam a produzir nas décadas seguintes, destacam-se Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, António de Alcântara Machado, além de Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida e Plínio Salgado.
[1] "Revista de Antropofagia", publicação semanal que reunia o grupo mais nacionalista da primeira fase do Modernismo. Teve 26 números, publicados entre Maio de 1928 e Agosto de 1929.

      O MODERNISMO – SEGUNDA FASE (1930-1945):
     MISTICISMO E CONSCIÊNCIA
SOCIAL
 
O período de 1930 a 1945 registrou a estreia de alguns dos nomes mais significativos do romance brasileiro. Reflectindo o mesmo momento histórico[1] e apresen-tando as mesmas preocupações dos poetas da década de 30 (Murilo Mendes, Jorge de Lima, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles e Vinicius de Moraes), a segunda fase do Modernismo apresenta autores como José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Érico Veríssimo, que produzem uma literatura de carácter mais construtivo, de maturidade, aproveitando as conquistas da geração de 1922 e sua prosa inovadora.
Efeitos da crise - Na década de 30, o país passava por grandes transformações, fortemente marcadas pela revolução de 30 e pelo questionamento das oligarquias tradicionais. Não havia como não sentir os efeitos da crise económica mundial, os choques ideológicos que levavam a posições mais definidas e engajadas. Tudo isso, formou um campo propício ao desenvolvimento de um romance caracterizado pela denúncia social, verdadeiro documento da realidade brasileira, atingindo um elevado grau de tensão nas relações do indivíduo com o mundo.
Nessa busca do homem brasileiro "espalhado nos mais distantes recantos de nossa terra", no dizer de José Lins do Rego, o regionalismo ganha uma importância até então não alcançada na literatura brasileira, levando ao extremo as relações do personagem com o meio natural e social. Destaque especial merecem os escritores nordestinos que vivenciam a passagem de um Nordeste medieval para uma nova realidade capitalista e imperialista. E nesse aspecto, o baiano Jorge Amado é um dos melhores representantes do romance brasileiro, quando retrata o drama da economia cacaueira, desde a conquista e uso da terra até a passagem de seus produtos para as mãos dos exportadores. Mas também não se pode esquecer de José Lins do Rego, com as suas regiões de cana, os banguês e os engenhos sendo devorados pelas modernas fábricas.
O primeiro romance representativo do regionalismo nordestino, que teve seu ponto de partida no Manifesto Regionalista de 1926 (este manifesto, elaborado pelo Centro Regionalista do Nordeste, procura desenvolver o sentimento de unidade do Nordeste dentro dos novos valores modernistas. Propõe trabalhar em prol dos interesses da região nos seus aspectos diversos - sociais, económicos e Culturais) foi "A bagaceira", de José Américo de Almeida, publicado em 1928. Verdadeiro marco na história literária do Brasil, sua importância deve-se mais à temática (a seca, os retirantes, o engenho), e ao carácter social do romance, do que aos valores estéticos.
[1] Queda da Bolsa de Nova Iorque, colapso no sistema financeiro internacional, a Grande Depressão - paralisação de fábricas, ruptura nas relações comerciais, falências bancárias, altíssimo índice de desemprego, fome e miséria generalizadas - gerando a intervenção do Estado na organização económica, com agravamento das questões sociais.

       PÓS-MODERNISMO (1945-1960):
      A POESIA PARTICIPANTE E A REINVENÇÃO DA NARRATIVA
 
O Pós-Modernismo se insere no contexto dos extraordinários fenómenos sociais e políticos de 1945. Foi o ano que assistiu o fim da Segunda Guerra Mundial e o início da Era Atómica com as explosões de Hiroshima e Nagasaki. O mundo passa a acreditar numa paz duradoura. Cria-se a Organização das Nações Unidas (ONU) e, em seguida, publica-se a Declaração dos Direitos do Homem. Mas, logo depois, inicia-se a Guerra Fria.
Paralelamente a tudo isso, o Brasil vive o fim da ditadura de Getúlio Vargas. O país inicia um processo de redemocratização. Convoca-se uma eleição geral e os partidos são legalizados. Apesar disso, abre-se um novo tempo de perseguições políticas, ilegalidades e exílios.
A literatura brasileira também passa por profundas alterações, com algumas manifestações representando muitos passos adiante; outras, um retrocesso. O jornal "O Tempo", excelente crítico literário, encarrega-se de fazer a selecção.
Intimismo - A prosa, tanto nos romances como nos contos, aprofunda a tendência já trilhada por alguns autores da década de 30 em busca de uma literatura intimista, de sondagem psicológica, introspectiva, com destaque para Clarice Lispector.
Ao mesmo tempo, o regionalismo adquire uma nova dimensão com a produção fantástica de João Guimarães Rosa e sua recriação dos costumes e da fala sertaneja, penetrando fundo na psicologia do jagunço do Brasil Central.
Na poesia, ganha corpo, a partir de 1945, uma geração de poetas que se opõe às conquistas e inovações dos modernistas de 1922. A nova proposta foi defendida, inicialmente, pela revista "Orfeu", cujo primeiro número é lançado na "Primavera de 1947" e que afirma, entre outras coisas, que "uma geração só começa a existir no dia em que não acredita nos que a precederam, e só existe realmente no dia em que deixam de acreditar nela."
Essa geração de escritores negou a liberdade formal, as ironias, as sátiras e outras "brincadeiras" modernistas. Os poetas de 45 partem para uma poesia mais equilibrada e séria, distante do que eles chamavam de "primarismo desabonador" de Mário de Andrade e Oswald de Andrade. A preocupação primordial era quanto ao restabelecimento da forma artística e bela; os modelos voltam a ser os mestres do Parnasianismo e do Simbolismo.
Esse grupo, chamado de Geração de 45, era formado, entre outros poetas, por Lêdo Ivo, Péricles Eugénio da Silva Ramos, Geir Campos e Darcy Damasceno. O final dos anos 40, no entanto, revelou um dos mais importantes poetas da nossa literatura, não filiado esteticamente a qualquer grupo e aprofundador das experiências modernistas anteriores: ninguém menos que João Cabral de Melo Neto. Contemporâneos a ele, e com alguns pontos de contacto com sua obra, destacam-se Ferreira Gullar e Mauro Mota.

A PRODUÇÃO CONTEMPORÂNEA
 
Produção contemporânea deve ser entendida como as obras e movimentos literários surgidos nas décadas de 1960 e 1970 e que reflectiram um momento histórico caracterizado inicialmente pelo autoritarismo, por uma rígida censura e enraizada autocensura. Seu período mais crítico ocorreu entre os anos de 1968 e 1978, durante a vigência do Ato Institucional nº 5 (AI-5). Tanto que, logo após a extinção do ato, verificou-se uma progressiva normalização no país.
As adversidades políticas, no entanto, não mergulharam o país numa calmaria cultural. Ao contrário, as décadas de 60 e 70 assistiram a uma produção cultural bastante intensa em todos os sectores.
Na poesia, percebe-se a preocupação em manter uma temática social, um texto participante, com a permanência de nomes consagrados como Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e Ferreira Gullar, ao lado de outros poetas que ainda aparavam as arestas em suas produções.
Visual - O início da década de 1960 apresentou alguns grupos em luta contra o que chamaram "esquemas analítico-discursivos da sintaxe tradicional". Ao mesmo tempo, esses grupos buscavam soluções no aproveitamento visual da página em branco, na sonoridade das palavras e nos recursos gráficos. O sintoma mais importante desse movimento foi o surgimento da Poesia Concreta e da Poesia Práxis. Paralelamente, surgia a poesia "marginal", que se desenvolve fora dos grandes esquemas industriais e comerciais de produção de livros.
No romance, ao lado da última produção de Jorge Amado e Érico Veríssimo, e das obras "lacriminosas" de José Mauro de Vasconcelos ("Meu pé de Laranja-Lima", "Barro Blanco"), de muito sucesso junto ao grande público, tem se mantido o regionalismo de Mário Palmério, Bernardo Élis, António Callado, Josué Montello e José Cândido de Carvalho. Entre os intimistas, destacam-se Osman Lins, Autran Dourado e Lygia Fagundes Telles,
Na prosa, as duas décadas citadas assistiram à consagração das narrativas curtas (crónica e conto). O desenvolvimento da crónica está intimamente ligado ao espaço aberto a esse género na grande imprensa. Hoje, por exemplo, não há um grande jornal que não inclua em suas páginas crónicas de Rubem Braga, Fernando Sabino, Carlos Heitor Cony, Paulo Mendes Campos, Luís Fernando Veríssimo e Lourenço Diaféria, entre outros. Deve-se fazer uma menção especial a Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto), que, com suas bem humoradas e cortantes sátiras político-sociais, escritas na década de 60, tem servido de mestre a muitos cronistas.
O conto, por outro lado, analisado no conjunto das produções contemporâneas, situa-se em posição privilegiada tanto em qualidade quanto em quantidade. Entre os contistas mais significativos, destacam-se Dalton Trevisan, Moacyr Scliar, Samuel Rawet, Rubem Fonseca, Domingos Pellegrini Jr. e João António. (www.vestibular1.com.br)
A partir das décadas de 1980 e 1990 não há movimentos literários organizados, mas é possível distinguir talentos individuais. No romance, João Ubaldo Ribeiro continua sua obra inspirada no Nordeste. Nessa linha surge também J.C. Dantas. No romance intimista distingue-se a obra de estreia de Milton Hatoum (Relato de um Certo Oriente). Rubem Fonseca disseca a motivação de seus personagens urbanos em histórias realistas e violentas. Em João Gilberto Noll a sexualidade vem acompanhada de um clima pesado de delírio. Na poesia há grande influência do concretismo nas obras de Paulo Leminski e Arnaldo Antunes e até mesmo de compositores da MPB como Caetano Veloso. Outros poetas realizam trabalhos muito pessoais, como José Paulo Paes, Hilda Hilst, Nelson Ascher e Adélia Prado. Nessa época se torna mais conhecida a obra Manoel de Barros, com sua poesia ligada à região do Pantanal. (http://www.leremcd.hpg.ig.com.br/historia.htm)

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